Economia: Por Davi Carneiro*
Dois anos atrás eu fiz dois textos relacionando a situação econômica que antecedeu a crise de 1929 com a atual situação. E nesses textos apontei que estávamos à beira de uma crise, e o crash era algo inevitável.
No dia 09/03/2020 o crash começou a ocorrer. A crise chegou. Bolsas pelo mundo inteiro tiveram enormes quedas, a Europa com queda de 7%, Brasil caindo 12% e os EUA com -7%. O cenário ainda pode e deve ficar pior, porém para apenas 24 horas é algo extremamente tenebroso.
Mas por que as bolsas caíram agora?
Uma cadeia de eventos fez com que a crise começasse a estourar. Primeiramente, é importante observar qual era o cenário econômico antes dos eventos recentes.
A maioria dos países gira em Ciclos Econômicos desde a pré-crise de 2008. No qual bancos centrais injetaram crédito na economia para “estimulá-la” e acabaram criando uma bolha. E isso foi sendo feito através de intervenção dos bancos centrais na taxa de juros, abaixando-a de maneira artificial.
Assim ocorreu a crise de 2008, essa bolha estourou, os investimentos gerados com o crédito criado pela política monetária falharam, e com isso bancos foram caloteados e a crise aconteceu.
Para superar a depressão, o FED (Federal Reserve) e a Europa decidiram aumentar a injeção de crédito, e não só continuar, como aumentar a crise. Assim chegamos na situação econômica atual, um mercado que teve nos últimos 10 anos mais de 500 bilhões de dólares injetados de maneira artificial e juros baixos. E agora a conta de toda essa intervenção chegou.
Voltando para hoje. Sabendo a situação antes da queda, já é possível concluir que o mercado estava extremamente sensível. Então dois fatores (um sendo o resultado do outro) em pouquíssimo tempo conseguiram derrubar as bolsas. São eles: coronavírus e a queda de petróleo.
Em resumo, o surto de coronavírus conseguiu parar a China e a Itália, fazendo a demanda por petróleo despencar. Então a OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) decidiu por diminuir a produção de petróleo para controlar a oferta e assim igualar a demanda e diminuir o prejuízo. Contudo Rússia e Arábia Saudita não concordaram e não diminuíram suas produções fazendo a oferta continuar grande para uma demanda em queda. O que fez o preço do petróleo cair 31% (dado da noite de 08/03/2020), ou seja, 1/3 de queda, podendo chegar a 93% de queda em investimentos com três alavancadas. Fazendo o preço cair de 40 para 30 dólares, com previsão de chegar a 20. A maior queda em 30 anos.
E agora? Agora a festa de crédito acabou, a conta chegou e a economia não consegue mais se sustentar. Como aponta o especialista em economia austríaca Raphaël Lima em sua análise da queda do dia 09/03/2020, é importante agora analisar o risco sistêmico.
Na economia risco sistêmico é o risco de um fato influenciar outros e assim entrar em um efeito dominó. E nesse caso o que mais oferece risco sistêmico são os bancos.
Em primeira análise, bancos sofrem risco de calote de empresas de petróleo que podem quebrar nessa crise, e isso pode chegar a falir um banco. Não deveria, mas pode.
E isso é possível devido atual situação dos bancos no mundo inteiro, no qual o JPMorgan (sexto maior banco do mundo) quase causou um crash em setembro, houve também a falência do Monte dei Paschi (5º banco da Itália), que posteriormente foi salvo pelo governo, e também o Deutsche Bank, maior banco da Alemanha, já citado por mim em outros textos aqui, que vem desde a crise de 2008 em constantes turbulências, utilizando de eufemismo.
Mas por que um banco pode oferecer tanto risco à economia?
Bem, bancos emprestam dinheiro para outros bancos. E isso que pode vir a causar o efeito dominó. Caso algum banco grande quebre, ele irá levar outro banco junto, que levará outro e assim por diante. E desse jeito a economia desmorona.
O dia 09/03/2020 foi marcado por quedas absurdas dos maiores bancos do mundo. Observando a tabela abaixo, é possível notar que todos tiveram uma queda brusca e perigosa. Caso qualquer um desses bancos quebre, e economia quebra junto.
Há um cuidado maior com a Itália, que é o país que mais apresenta risco pra Europa, e que tem um crescimento econômico médio anual inferior a 1% vindo desde os últimos 30 anos. Ou seja, apresenta uma economia estagnada e extremamente frágil.
O risco de qualquer desses bancos quebrarem é real, e para piorar o cenário ainda houve o aumento da taxa interbancária, que são o juros de empréstimos realizados entre bancos. Ou seja, o juros que esses bancos têm que pagar aumentou, e isso é reflexo de um risco maior nessas instituições, mais um sinal que os bancos não estão bem.
E enquanto tudo isso ocorre no mundo, como fica o Brasil?
O Brasil é um caso a parte. Tendo começado a política monetária de injeção de crédito de maneira mais tardia que os demais países (começou apenas em 2005), a bolha econômica brasileira não estourou em 2008, isso foi acontecer apenas em 2013/2014, o que ocasionou a crise brasileira. Depois disso, o país continuou e parou, de maneira fraca, a injeção de crédito. Tendo a oportunidade de realizar reformas e “preparar o terreno” para quando a crise mundial estourasse, podendo até fazer do Brasil um ponto de fuga para investidores que fugiam da crise em outros países. Mas isso não aconteceu, o país ficou inerte desde então. Houve reformas, mas foram poucas e insuficientes para fazer do Brasil um pólo atrativo perante a crise.
O que vai acontecer agora? O cenário mais provável é que o Brasil seja levado pela onda da crise, preço caro a ser pago pela inércia dos três últimos governos (Bolsonaro, Temer e Dilma). O país não tem base econômica para competir com a “porrada” que irá levar dos outros países.
Incompetência, má fé, politicagem ou má administração? Isso no momento é irrelevante, já é tarde demais. Mas que fique a lição para todos, parafraseando a música da madrinha do samba Beth Carvalho: camarão que dorme a onda leva.
*O texto é de responsabilidade do autor.
Texto muito bom, Davi! Embora não seja adepta do neoloberalismo, voce sabe disso, considerei a análise bem esclarecedora. Parabéns!